Antonio Fumero: "o desafio é incorporar o humanismo na construção de uma sociedade da informação e do conhecimento"

Antonio Fumero é Engenheiro de Telecomunicações da Universidade Politécnica de Madri (UPM)Ele também é pesquisador da UPM e consultor independente. Antonio apresentou em dezembro de 2012 sua tese de doutorado chamada Desenvolvimento de uma estrutura tecnocultural para uma sociotecnologia da informação e cultura, com aplicação no campo do ensino superior para a formação de profissionais. Trata-se de um trabalho dirigido pelo professor e professor emérito Fernando Sáez Vacas e pode-se ver, a apresentação e a tese, nos links indicados no final do artigo. Fernando Sáez Vacas indica que a infraestrutura infotecnológica está transformando a maneira como interagimos na economia, educação, conhecimento, mídia, cultura, sistema de saúde etc. e, por exemplo, as relações entre humanos também estão mudando, como pode ser visto pelo sucesso das redes sociais na Internet.

Para saber mais detalhes de esse impacto do uso das tecnologias da informação e, especificamente, como o treinamento e a educação estão mudando, apresentamos uma entrevista com Antonio Fumero para que possamos aprender mais sobre as necessidades do "infociudadano" e como ele vive de maneira consciente e responsável o relacionamento com a tecnologia no ambiente social techno.

O que é uma estrutura tecnocultural para uma sociotecnologia da informação e cultura e como ela se desenvolve

É um conjunto de ferramentas conceituais, de base sistemática, que visa consolidar uma certa abordagem (tecnocultural) do que chamamos de Novo Ambiente Tecnossocial (NET). Seu desenvolvimento é baseado em dois eixos fundamentais: a abordagem sistêmica e sua natureza inter e multidisciplinar.

Essa abordagem baseia-se na convicção de que "a tecnologia em geral e a infotecnologia em particular constituem uma parte real da cultura, mas essa integração ainda deve ser desenvolvida formal e intelectualmente", nas palavras de Fernando Sáez Vacas.

Por que esse projeto, focado na educação, surge em uma escola de engenheiros de telecomunicações

Embora o projeto seja muito mais amplo, sua aplicação educacional surge no campo, já muito desenvolvido, da "tecnologia educacional", apesar de transcender a implementação instrumental tradicional à qual dedicamos engenheiros.

A abordagem do trabalho foi mostrar como as iniciativas de base sistêmica desenvolvidas pelos engenheiros poderiam produzir resultados comparáveis ​​às intervenções iniciadas na psicologia educacional.

Que experiências existem na Espanha e em outros países de implantação desse tipo de modelo

Este não é um modelo educacional que pode ser "implantado" em qualquer lugar. Trata-se de fornecer aos profissionais que se dedicam a projetar intervenções educacionais, em diferentes níveis e áreas, uma série de ferramentas sociotécnicas que incorporam essa abordagem tecnocultural.

Experimentos de diferentes tipos e diferentes escopos foram realizados e baseados nas contribuições teóricas de grandes figuras do sistema, como Edgar Morin (Multiversidade) ou Ivan Illych, que inspirou muitos com sua "De-School Society". Alguns aspectos relacionados são desenvolvidos nos fóruns e iniciativas de Ciência, Tecnologia e Sociedade que tentam recuperar certos locais comuns do construtivismo social proliferam artificialmente, associando-os a algumas ferramentas mais ou menos populares, como as redes sociais. Mas não há um esforço sistemático para consolidar, como um arcabouço teórico único e consistente, os elementos que relacionamos em nosso trabalho como parte integrante de um STIC.

Embora o foco seja o ensino superior, como ele pode ser aplicado ao infantário e à escola primária

Como projeto educacional, o desenvolvimento de um STIC como disciplina com entidade própria é ambicioso. Embora seu foco inicial seja a formação de um certo tipo de nossos engenheiros, profissionais em geral, sua extensão é contemplada na formação genérica de um tipo de "infociudadano" que precisa cada vez mais viver de maneira consciente e responsável sua relação com a tecnologia que NET.

O modelo educacional deve ser alterado ou este quadro pode ser adaptado à situação atual

Como eu disse acima, essa estrutura não pretende ser um "modelo" alternativo, mas introduzir elementos que possam servir aos profissionais que projetam e gerenciam esses modelos educacionais; embora seu desenvolvimento possa constituir certas ferramentas sociotécnicas para uso direto em certos modelos mais ou menos inovadores.

Quais são as necessidades de infraestrutura tecnológica necessárias para implementar esta Estrutura

No que diz respeito à própria tecnologia, o que essa estrutura fornece são instrumentos conceituais para entender e internalizar o processo de co-evolução Humanidade-Tecnologia que Fernando Sáez Vacas defendeu anos atrás, bem como suas consequências em ambas as direções. Em outras palavras, como desenvolvemos essa infraestrutura e como nosso intenso relacionamento com ela mudou nossas próprias capacidades.

Quais são as necessidades de treinamento dos participantes da comunidade educacional: professores, pais, alunos, coordenadores de TIC, etc.

As necessidades de treinamento e os instrumentos para fornecê-los serão diferentes, embora o objetivo genérico deva ser comum: desenvolver intelectual e formalmente a integração de patentes entre tecnologia e cultura, entre sociotecnologia, informação e cultura.

Alguém, da administração pública ou iniciativa privada, entrou em contato com você para explicar o projeto

Não. É um projeto ambicioso, a médio ou longo prazo, que exige um certo compromisso de dotação de recursos operacionais mínimos, em uma área como a educação, que está claramente sujeita a altos e baixos políticos.

Como o modelo proposto pode ser rentável nas escolas

Pode-se argumentar sobre a "rentabilidade", em termos de inovação social, da integração de certos elementos característicos dessas TIC. Embora seja improvável que a viabilidade de sua implementação possa ser discutida de um ponto de vista puramente econômico, é verdade que, pelo menos a priori, o design baseado em certos elementos básicos da estrutura proposta provavelmente evitará o uso instrumental de as infotecnologias em nossas escolas e que, portanto, tiveram algum efeito positivo a curto e médio prazo nos recursos financeiros dedicados à compra e amortização de "tecnologia". Mas, insisto, são decisões que, na maioria dos casos, são tomadas em instâncias políticas.

E aqui a entrevista com Antonio Fumero. Quero agradecer a generosidade de explicar alguns detalhes da sua tese de doutorado, atribuída com a classificação mais alta, e parabenizo-o pela brilhante trabalho de compilação, análise e especialmente do modelo sobre o qual construir e evoluir.

Na tese do livro que ele me deu para me documentar, pode-se ler que o desenvolvimento instrumental dessa teoria geral estará necessariamente vinculado ao design e desenvolvimento de processos educacionais, programando ações diferentes com diferentes níveis de esforço que permitirão passar da informação ao conhecimento especializado para um perfil STIC (Sociotecnologia da Informação e Cultura), que também será necessariamente multidisciplinar.

E para tentar contextualizar esse modelo proposto por Antonio, também copio alguns parágrafos da Tese-Livro em que é mencionado o poder do brincar na aprendizagem e como ele pode ser aplicado em crianças (É um fragmento da coluna chamada Compujuegos publicado na PCWEEK em 1992) por Fernando Sáez Vacas:

É notório que o jogo aprimora o aprendizado. Não é menos que o mundo muda e, com ele, os recursos que nossa inteligência poliédrica precisa implantar para, entre outras tarefas, alocar recursos, avaliar informações, entender a operação dos sistemas, enfrentar novas tecnologias, desenvolver-se interpessoalmente. Solloway argumenta que a geração Nintendo, os filhos de hoje, aumentam através de jogos de computador várias dessas capacidades. Penrose escreveu que seu pensamento matemático é organizado visual, diagramaticamente e não verbalmente, muito semelhante aos jogos. Uma linha de pesquisa visa criar ferramentas educacionais mais semelhantes aos computadores que aos livros, porque um computador pessoal interagindo com um disco de vídeo abre horizontes infinitos. É fato que os simuladores atuais no mercado são melhores do que os usados ​​pelos militares profissionais há uma década. E programas como o Palenque (exploração multimídia para o reino maia) ou o SimEarth (simulação do planeta da Terra) aniquilam o papel das escolas como transmissoras de conhecimentos e habilidades.

E, finalmente, um gráfico explicativo do modelo proposto também extraiu da Tese-Livro que Fernando Sáez Vacas e Antonio Fumero realizaram:

Este quadro mostra algumas das funções necessárias para participar do controle de múltiplas e variadas mudanças sociais e culturais nas atividades e formas humanas no Novo Ambiente Tecnossocial (NET), a partir das infotecnologias que constituem a imensa e complexa Rede Universal Digital (RUD).

Na prática, essas mudanças podem ser chamadas de inovação tecnológica, como fizemos em vários casos econômicos e educacionais. Vivemos na era digital (hoje: era CDIC) e é necessário trabalhar profissionalmente para criar uma base um tanto enciclopédica na área chamada SocioTecnologia da Informação e Cultura (STIC) com um conjunto amplo, estruturado e informativo, apoiado por dois fatores fundamentos da inteligência tecnossocial: o amplo conhecimento da complexidade, que inclui a complexidade sociotécnica, e ele abordagem mental interultidisciplinar, aceitando que estes sejam detalhados ao participar com o conhecimento da referida base em aplicações específicas de natureza tecnossocial.

Acesso à tese de doutorado de Antonio Fumero em Tecnologia Educacional

Acesso ao vídeo de defesa da tese de doutorado na Universidade Politécnica de Madri