Histórias clássicas

Em uma ocasião, uma mãe no parque me disse que nunca havia lido uma História Clássica para seu filho porque eles pareciam cruéis e os papéis de gênero parecem estereotipados.

Muitos pensam como essa mãe em questão. Alguns pedagogos, psicólogos e profissionais relacionados não apoiam a leitura de Histórias clássicas. As histórias originais têm passagens que para muitos podem ser macabras, como se o lobo comeu o chapeuzinho, ou dois dos porquinhos. Ou que as irmãs adotivas de Cinderela cortam os dedos para encaixar nos chinelos de cristal ou quebram um lobo na barriga para salvar as sete crianças. No entanto, as edições que chegaram às nossas mãos são suavizadas e os finais "fortes" foram alterados, como nas versões da Disney, que eliminam a "substância" da história. Bruno Bettelheim, em seu livro "Psicanálise de contos de fadas", resgata e analisa sua utilidade no processo de amadurecimento e compreensão da realidade das crianças. Para este autor, os clássicos "encaram a criança com realidades duras, que constituem conflitos humanos básicos". "Essas histórias falam dos fortes impulsos internos de uma maneira que a criança pode inconscientemente entender e oferecer exemplos de que as dificuldades que a pressionam são superadas".

As histórias refletem, através de séculos de repetição e refinamento, os problemas e ansiedades existenciais que as crianças experimentam: a necessidade de ser amada, o medo do abandono, o medo da morte, o desejo de viver para sempre. Ao mesmo tempo, oferecem soluções que estão ao alcance do nível de compreensão da criança e indicam, de maneira muito geral, que a única coisa que pode nos ajudar na busca de significado é a formação de um vínculo realmente satisfatório com outra pessoa.